A capela da Senhora de Guadalupe, no lugar do Paço, data de 1633. Esta data pode, eventualmente, referir-se a alguma reconstrução, já que surgem indicações de que foi construída em 1580. [1]
A história deste templo assenta num facto que teria acontecido a um natural de Paço, que foi acusado de um crime de morte, que, de todo em todo, não havia cometido. Temeroso pela sua vida, resolveu abandonar a sua terra e refugiar-se em Espanha, mais concretamente junto de um santuário, de nome Guadalupe, numa das margens do rio do mesmo nome. A vida em Portugal continuava. Nas terras da Maia, o crime ainda não havia sido esquecido, mas já se sabia que o seu autor não tinha sido quem fora forçado a fugir.
Em Espanha, junto ao Guadalupe, vivia um maiato que, certo dia, fez a promessa a Nossa Senhora de Guadalupe de que, se pudesse voltar à sua terra e tivesse sido ilibado do crime de que fora acusado, ali mandaria levantar uma ermida em honra da Senhora de Guadalupe. E assim aconteceu e, hoje, a ermida lá está, “menina dos olhos” das gentes de Paço, digna de uma atenta e demorada visita. As paredes da capela mor, bem como o teto, são pintadas representando vários emblemas alusivos a Nossa Senhora (1746). As paredes interiores da ermida apresentavam, de onde a onde, vislumbres dos frescos originais, representando vários passos da Paixão de Jesus Cristo, com toda a certeza da escola italiana (1754).
As partes ainda visíveis devem a sua “sobrevivência” ao facto de alguém ter, face à degradação acelerada, terminado com uma prática de muitos anos: durante os períodos festivos, os ornamentadores revestiam as paredes de panos alusivos, servindo-se de alfinetes – e, em certos casos, de pregos – para os prender às paredes. Foi um inconsciente e maléfico perfurar do material que revestia as pedras do templo. O resultado foi o que seria de esperar. No entanto, uma outra ação foi levada a cabo que quase destruía por completo os frescos: por altura do casamento de uma importante figura local, alguém mandou “alindar” as paredes, isto é, limpá-las.
E assim foi feito, só que a ação das escovas quase ” limpava” por completo os frescos que os alfinetes haviam poupado. Graças à boa vontade das gentes deste lugar as obras de restauro das pinturas murais que cobrem todas as paredes interiores da Ermida, começaram a ser realizadas em 2002 e terminaram em 2005.
Órgão de tubos com 170 anos
No interior da capela não pode deixar de ser admirado um órgão de tubos, que ostenta a data de 1827, a da sua construção e instalação. Este órgão de tubos trabalhava com um fole, sendo necessário “dar” a uma manivela para que o ar chegasse aos tubos.
O fole está guardado e o órgão espera pelo restauro. No ano de 2000, fez-se uma recuperação ao exterior da capela, nomeadamente a reposição da fachada original. Todas as imagens da capela foram restauradas, em 1985, preservando-se a sua genuinidade, tal como aconteceu com as de Nossa Senhora de Guadalupe, que se encontra no altar-mor (1746), uma outra, mais pequena, que se guarda na sacristia e que, segundo dados recolhidos, é a imagem que veio de Guadalupe (Espanha) e foi instalada na ermida na altura da construção e é uma réplica da de Guadalupe, no México.
Para além do altar-mor, a capela possui dois outros, em talha dourada, localizados abaixo do arco do cruzeiro (1746). Dado o seu interesse patrimonial e beleza foram sujeitos a restauro durante o ano de 1985. No do lado do Evangelho encontra-se uma imagem de S. Domingos de Gusmão e no do lado da Epístola a imagem de S. João de Deus.
Na abóbada sobre o altar-mor, em toda a sua volta, encontramos pinturas representando vários passos alusivos à Senhora, tirados da ladainha.
[1] Álvaro do Céu Oliveira. «Nossa Senhora de Guadalupe e Os Agricultores Maiatos». Jornal da Maia, Suplemento «Águas Santas», 28/3/85.